Amamentação: Contacto Pele a Pele e Livre Demanda
Breastfeeding: Skin-to-Skin Contact and Feeding On Demand
Existem alguns fatores que podem ser importantes para facilitar o início e continuação da amamentação, especialmente quando adoptados imediatamente após o parto. Estes são: o contacto pele a pele, o alojamento conjunto e a livre demanda na amamentação. Vamos perceber porquê.
CONTACTO PELE A PELE
Está comprovada a importância do contacto pele a pele no início de vida, e felizmente cada vez mais instituições de saúde incentivam este contacto imediatamente após o parto, quando as condições de saúde de mãe e bebé assim o permitem.
Idealmente o bebé é colocado sobre a barriga da mãe assim que nasce, num parto vaginal. Depois dos primeiros cuidados ao recém-nascido e à mãe, se não houver circunstâncias em contrário, o bebé e a mãe devem partilhar pelo menos uma hora de contacto pele a pele.
Como deve ser feito o contacto pele a pele após o nascimento?
mãe e bebé sem roupa (bebé pode ter a fralda e um gorro), tapados por um lençol;
sem interrupções, num quarto com privacidade para a mãe e bebé ou para o casal e bebé;
se for possível, pode ser feito a meia luz
Quais são as vantagens do contacto pele a pele no inicio de vida?
Está comprovado que o contacto pele a pele tem várias vantagens, nomeadamente:
acalma o bebé e a mãe, ajuda a estabilizar a frequência cardíaca, frequência respiratória e nível de glicémia do recém-nascido;
mantém o bebé aquecido com o calor da mãe;
reduz o choro, stress e gasto de energia do bebé;
possibilita que o bebé esteja em contacto com as bactérias normais presentes da pele da mãe, iniciando a colonização do seu intestino;
facilita o vínculo afetivo mãe-bebé;
permite que o bebé procure a mama, pegue na mama e inicie a primeira mamada;
aumenta o sucesso da amamentação exclusiva a longo prazo;
O CONTATO pele a pele só é feito na maternidade?
Não, a prática do contacto pele a pele pode e deve ser continuada em casa, tanto pela mãe como pelo pai! Ajuda a acalmar o bebé, já que remete para o conforto do útero materno, com o bater do coração e o calor do corpo do pai ou da mãe.
O contacto pele a pele do bebé com a mãe, ajuda a promover a produção de leite, facilita a pega e promove a amamentação em livre demanda.
ALOJAMENTO CONJUNTO
O alojamento conjunto permite que as mães e seus bebés permaneçam juntos 24h por dia.
Antigamente as maternidades tinham os quartos do internamento para as mães - e um berçário para os bebés. Os bebés eram separados das mães - para elas poderem descansar - e eram trazidos pelas enfermeiras às mães para amamentar, se fosse o caso.
Se não, o bebé poderia mesmo ser alimentado pela equipa de enfermagem, passando várias horas sem estar em contacto com a mãe.
Agora sabemos que o alojamento conjunto, em que o bebé permanece com a mãe e dorme no mesmo quarto que a mãe, tem vantagens:
antes do parto há um ritmo de sono que o bebé partilhava com a mãe, e não deve ser alterado;
o bebé dorme melhor e chora menos;
favorece o aleitamento materno;
aumenta a confiança da mãe em cuidar do bebé;
promove o vínculo afetivo entre a mãe e o bebé;
Felizmente o alojamento conjunto já é a norma nas nossas instituições de saúde, a não ser que haja algum problema grave com a mãe ou com o bebé, que precise de outro tipo de vigilância.
Nos hospitais, o berço do bebé é um objecto pequeno, em acrílico transparente, sobre uma estrutura metálica com rodas, para que se possa aproximar e afastar da cama da mãe.
O tipo de material é óptimo não só para manter as condições de higiene mas também para que possa haver contacto visual entre mãe e bebé.
Como se deve fazer o alojamento conjunto em casa?
Em casa, idealmente o bebé partilhará no quarto dos pais pelo menos até aos 6 meses de idade. Existem muitas opções de camas, berços e alcofas, assim como vários acessórios e conjuntos de cama que infelizmente apela mais à estética do que à segurança do sono do bebé.
Duas opções seguras para o alojamento conjunto são:
o berço ou cama de grades, que fica no quarto dos pais mas depois pode ser mudada para o quarto da criança;
o mini-berço ou berço de co-sleeping, um berço mais pequeno - que normalmente serve até aos 6 a 9 meses - que fica fixo à cama dos pais, com a lateral amovível para que a mãe possa ter fácil acesso ao bebé;
Alguns pais optam ainda por praticar o co-sleeping, dormindo na mesma cama que o bebé. Enquanto esta prática acaba por ser milenar e usada desde sempre em algumas culturas, existem regras para que possa ser praticado com segurança - vamos discutir este assunto num artigo futuro.
O ideal é que o bebé tenha um lugar próprio e seguro onde possa descansar.
LIVRE DEMANDA
A expressão "livre demanda" significa que a mãe amamenta o bebé sempre que o bebé queira, ou seja, a frequência e a duração das mamadas são determinadas pela necessidade do bebé e pelos sinais de fome que o bebé demonstra.
Existe uma ideia antiquada, de que o bebé recém-nascido deve ser amamentado de num horário específico - normalmente em intervalos de 3 ou 2horas. Agora vamos imaginar... Está com fome ou com sede. Já comeu ou bebeu há 30min, mas está com fome outra vez. Mas alguém decidiu por si, que só vai poder comer ou beber daqui a 1h45min.. Não parece uma experiência muito agradável, pois não?
Na verdade a mãe deve estar atenta aos sinais de fome do bebé - que com o passar do tempo vai aprender a identificar facilmente. Nas primeiras semanas o bebé deve ser amamentado 8 a 12 vezes por dia - sendo que pelo menos 4 destas mamadas devem ser durante o período noturno (quando se dá a produção da prolactina, hormona da produção do leite). Mas os intervalos entre estas mamadas são guiados pelas necessidades do bebé. Tanto podem ser 2h como 30min.
Quando é que deve dar de mamar ao bebé? Com o passar dos dias, vai conseguir aperceber-se de pequenos gestos que o seu bebé faz, para sinalizar que está à procura da mama da mãe.
Inicialmente, o bebé começa com se mexer um pouco, a virar a cabeça enquanto abre a boca e o nota-se bem o reflexo de sucção - o bebé começa a querer sugar quando se toca nos lábios ou perto da boca. Estes são considerados os sinais iniciais de que o bebé tem fome.
Quando o seu bebé começa a ficar mais agitado, a espreguiçar-se ou esticar-se, a mexer mais os braços e as pernas, e a levar as mãos à boca - estes são os sinais intermédios.
Quando o bebé começa a chorar, a ficar vermelho do esforço e com movimentos muito agitados, já está a fazer os sinais tardios - o bebé já está com muita fome e está a fazer o máximo possível para chamar a atenção da mãe. Normalmente o bebé acalma quando vai para o colo da mãe, quando ouve a voz da mãe e sente o seu toque - e começa a procurar imediatamente a mama assim que sente o seu cheiro!
Na maternidade, a livre demanda ajuda a mãe e o bebé a conhecer-se, a tentar estabelecer o novo ritmo do seu dia-a-dia e, mais importante de tudo, a aprender a mamar. O alojamento conjunto vai de encontro a esta prática, já que a vontade de mamar do bebé aumenta quando está junto da mãe. Esta estimulação constante da mama faz com que a mãe produza mais colostro, tenha maior produção de leite, o bebé ganhe mais peso e menos sinais de icterícia.
Após a alta da maternidade, o bebé deve continuar a ser amamentado em livre demanda. Entre o 3º e o 5º dia após o parto dá-se a "descida" do leite, e o bebé deve mamar com frequência de modo a poder esvaziar as mamas da mãe, para aliviar o seu ingurgitamento e prevenir complicações.
A livre demanda facilita ainda os picos de crescimento - que normalmente coincidem com os 15 dias de vida, as 6 semanas e ainda aos 3 meses - durante os quais o bebé poderá ter uma necessidade constante de amamentar, para colmatar as necessidades deste crescimento acelerado.
Em conclusão, a livre demanda promove o estabelecimento e duração do aleitamento materno, respondendo às necessidades fisiológicas do bebé, ao invés de seguir um horário rígido.
A mãe vai conhecer e reconhecer os sinais do seu bebé mais rapidamente. O bebé vai chorar menos, pelo que haverá menor tentação da sugestão de suplementar com leite adaptado. E ajuda a prevenir ingurgitamento mamário e outras complicações dolorosas, promovendo a continuidade da amamentação.
DEVO ACORDAR O MEU BEBÉ PARA MAMAR?
A pergunta que as mães se perguntam, uma e outra vez… Especialmente nas primeiras semanas, enquanto a amamentação está a ser estabelecida e o bebé está a recuperar o seu peso, é imprescindível que se mantenham as mamadas noturnas. Mas pode e deve colocar esta questão ao seu médico de família ou pediatra que acompanha o seu bebé!