Trabalho de Parto e Parto
Labor and Childbirth
ESTOU EM TRABALHO DE PARTO, E AGORA?
Seja por ter uma rotura da bolsa de águas, com perda de líquido amniótico ou pelo início das contrações regulares e cada vez mais intensas, normalmente a mulher percebe quando o seu corpo está em trabalho de parto e que “desta vez é a sério”!
Este momento pode ser de grande felicidade, mas também de alguma ansiedade, especialmente quando é o primeiro parto. Mantenha a calma, está cada vez mais perto do momento em que vai conhecer o seu bebé!! Pode confirmar neste artigo quando é que se deve dirigir ao hospital ou maternidade.
O trabalho de parto consiste em quatro fases distintas:
Dilatação
Período Expulsivo
Dequitadura
Puerpério Imediato
Como referido no artigo anterior, a fase da Dilatação tem 3 fases: latente, ativa e de transição. Normalmente a grávida apercebe-se de que está em trabalho de parto na fase latente - que na prática significa que o seu corpo está a preparar-se e a iniciar o processo de apagamento e dilatação do colo do útero. Assim que o colo começa a apagar (ou encurtar) e atinge os 3cm de dilatação é considerada a entrada na fase ativa. Normalmente é nesta altura que a grávida se desloca até ao hospital.
O QUE ME ESPERA QUANDO CHEGAR AO HOSPITAL/MATERNIDADE?
Quando chegar ao serviço de urgência obstétrica vai ser observada por um profissional de saúde, Médico Obstetra, ou Enfermeira Especialista Saúde Materna, que vão colher todas as informações/dados para registar na história clínica. Por isso é importante que tenha consigo todas as análises, exames e ecografias que fez durante a gravidez, assim como o Boletim de Saúde da Grávida.
Da observação consta:
observação ginecológica, onde o enfermeiro ou o obstetra avalia a condição do colo do útero;
registo de bem-estar fetal e de contrações uterinas (que pode ser chamado RCT- Registo CardioTocográfico; CTG - CardioTocoGrafia, ou “cintas” - porque são colocadas cintas elásticas a segurar dois sensores, uma para a frequência cardíaca do bebé e outro para as contrações);
Após esta fase, será feito o internamento de acordo com a organização interna de cada instituição de saúde: se o seu trabalho de partos ainda estiver numa fase inicial, poderá aguardar no Serviço de internamento de Obstetrícia, ou poderá ser logo encaminhada para a Sala/Bloco de Partos.
As salas de parto e suas condições variam em cada instituição de saúde, mas por norma, são unidades individuais, de acolhimento da parturiente e acompanhante, e tem, entre outros:
uma cama articulada (que se transforma no momento do parto, caso seja necessário),
mesa de apoio ao parto,
armário com material médico de apoio,
equipamento de apoio aos primeiros cuidados ao recém-nascido,
cadeirão de apoio,
bola de Bobath ou Pilates;
JÁ ESTOU NA SALA DE PARTOS, E AGORA?
Dependendo da fase em que estiver no seu trabalho de parto e do tipo de controlo de dor que quiser fazer, enquanto está na fase ativa - até atingir a dilatação completa - pode (e deve!) mexer-se, caminhar, fazer movimentos na bola de Bobath/Pilates, ouvir música relaxante, fazer exercícios de respiração, alterar posições, tudo o que fizer sentido para si e que seja possível consoante as condições do seu trabalho de parto.
Nesta fase as contrações estão a evoluir e vão sendo em intervalos cada vez mais curtos e mais intensas. Na maioria dos casos é nesta fase que ocorre a rotura de membranas e a saída de líquido amniótico. Caso não aconteça espontaneamente, poderá ser feito manualmente, de forma a contribuir para o aumento da progressão da dilatação.
Existem várias opções de controlo de dor, farmacológicos e não-farmacológicos. Os métodos farmacológicos podem ser por via endovenosa, via intramuscular ou analgesia epidural. Pode ler mais sobre analgesia epidural neste artigo. Iremos abordar os métodos não farmacológicos num artigo futuro.
Durante este período o que está a acontecer é o apagamento e dilatação do colo do útero, enquanto o seu bebé vai descendo lentamente no canal de parto. Aqui está um vídeo ilustrativo do processo de apagamento e dilatação:
SINTO VONTADE DE FAZER FORÇA….
À medida que o bebé desce vai fazendo cada vez mais pressão na zona pélvica, como se tivesse que evacuar. Quando o colo do útero ficar completamente dilatado, aos 10cm, inicia-se a segunda fase do trabalho de parto, o período expulsivo, que termina com a expulsão/nascimento do seu bebé!
Esta fase será a mais intensa, em que vai precisar de se focar na sua respiração e no que está a sentir - com cada contração, que são cada vez mais frequentes e fortes, o bebé vai progredir pelo canal vaginal. A equipa de saúde vai ajudá-la e guiá-la nas suas contrações, mas pode e deve assumir a posição que lhe parece mais natural e confortável. O momento em que o bebé está a coroar - a cabeça está a sair - é o chamado anel de fogo, em que a mulher sente quase um ardor pela pressão exercida nos tecidos da vagina e períneo.
Num parto vaginal não instrumentado, não existe nenhuma intervenção para ajudar o bebé a sair. O profissional de saúde poderá ajudar a suster o períneo, para prevenir lacerações.
Em situações em que o bebé não está a conseguir descer o suficiente ou as contrações não estão a ser eficientes, pode ser necessário usar um instrumento para ajudar o bebé a nascer: uma ventosa ou fórceps. Vamos falar mais sobre estes partos num próximo artigo.
A episiotomia é uma técnica médica onde se faz um corte que abrange o períneo e vagina, para ter mais espaço para a saída do bebé. Apesar do seu uso generalizado no passado, as diretrizes atuais da Organização Mundial de Saúde defendem que a sua prática deve ser feita apenas em situações excecionais e com consentimento informado por parte da mulher.
NASCEU!!!
Ao nascer, e se o bebé estiver bem, será imediatamente pousado sobre a barriga da mãe, onde ficará alguns minutos a fazer contacto pele a pele. É neste momento mágico que mãe e bebé se vêm pela primeira vez!
Atualmente são conhecidos os benefícios do corte tardio do cordão umbilical, por isso se não houver outra indicação, se aguardam pelo menos 3 minutos após nascimento, ou até deixar de pulsar. O profissional que fez o parto dará então oportunidade à mãe ou ao pai/acompanhante para cortar o cordão.
Após secar um pouco o bebé e colocar um gorro, ele volta para a mãe e idealmente fica a fazer pele a pele entre uma hora a duas horas - é a chamada hora dourada e este período de tempo é muito importante a vários níveis:
O bebé reconhece o cheiro da mãe e o toque da pele acalma-o, o que diminui o choro e o stress provocado pelo parto (e pelo ambiente estranho em que está);
O bebé consegue regular melhor a sua temperatura, a respiração e reduz a probabilidade de hipoglicémia (falta de açúcar no sangue);
O bebé é exposto às bactérias do bioma da mãe (com as mãos, a cara e a boca), o que desenvolve o seu sistema imunitário e protege contra infeções do ambiente hospitalar;
Promove o vínculo afetivo entre o bebé e a mãe, e entre o bebé e o pai, dando mais calma e confiança aos novos pais;
Estimula a produção de oxitocina (a hormona “do amor”), que ajuda a mãe a sentir a ligação com o seu bebé mas também promove a ejeção de leite;
O bebé nasce com instintos de sobrevivência inatos aos mamíferos, de procurar a mãe para subsistência - dada a oportunidade, o recém-nascido é capaz de “gatinhar” pela barriga da mãe à procura da mama.
Nesse período o bebé estará bastante atento e desperto, e instintivamente vai procurar o olhar e a cara da mãe, e a mama. A mãe pode ajudar o seu bebé a encontrar a mama e a fazer a primeira pega, mas caso necessite terá apoio do Enfermeiro Especialista.
Nestes primeiros minutos após o nascimento do bebé a placenta vai descolar e será expulsa do útero - a fase de Dequitadura. Nesta fase o útero ainda tem contrações, de maneira a provocar este descolamento. Se não acontecer expontaneamente, ou se o profissional a fazer o parto se aperceber que falta alguma parte da placenta, será feito um descolamento manualmente.
Após a dequitadura da placenta, será feita a sutura das lacerações, caso seja necessário ou da episiotomia, caso tenha acontecido. Este procedimento é feito com anestesia local.
Durante as duas horas seguintes - o Puerpério Imediato - o organismo da mulher vai iniciar o seu retorno ao estado de “não gravidez”, pelo que vai sofrer alterações significativas. O útero continua a contrair-se e deve ficar duro e em forma de bola (para prevenir a hemorragia), e as perdas sanguíneas serão significativas podendo até haver saída de coágulos. Este intervalo de tempo é muito importante nestas alterações, por isso o Enfermeiro Especialista mantém uma vigilância constante das perdas sanguíneas e dos sinais vitais da mulher, assim como do comportamento do bebé.
No final deste período, o bebé é pesado e vestido, faz uma injecção de vitamina K (para prevenção de hemorragias) e é-lhe colocada na perna uma “pulseira eletrónica” de segurança, que só será retirada no momento da alta.
Após o cuidado ao recém-nascido, a mulher/casal e o bebé serão transportados para o serviço de Internamento, onde vão permanecer em média durante 48-72h, conforme cada situação.
Bibliografia:
Graça, L. M. (2017). Medicina Materno Fetal (5a Edição). Lisboa: Lidel - Edições técnicas, Lda.
Lowdermilk, D., & Perry, S. (2009). Enfermagem na Maternidade (7a Edição; Lusodidacta, ed.). Loures.
World Health Organization. (2018). Intrapartum care for a positive childbirth experience. Retrieved from http://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/